Primeiros passos
A música está presente na vida de todos. Muito antes da infância, na barriga da mãe, já nos acostumamos com os sons, iniciamos ali a construção de uma bagagem musical que nos acompanhará pra toda a vida.
Durante a infância vivenciamos a música em praticamente todas as atividades que nos é direcionada, seja pelos brinquedos sonoros, desenhos animados, cantigas (muitas vezes interpretadas pelos nossos pais), além de inúmeras atividades que fazem parte do nosso dia a dia, tanto em casa quanto na instituição educacional que frequentamos.
Início e incentivo
Com esse estímulo constante, é natural que haja por parte da criança ou dos próprios pais, um interesse em estudar música, ou até mesmo dar uma continuidade nas atividades de musicalização realizadas na infância com um objetivo mais sério. Nessa fase nossos olhares começam a focar em um instrumento ou em uma atividade mais específica, como por exemplo, estudar piano, violão ou canto.
O primeiro ponto que deve ser considerado nessa procura é analisar de onde vem esse interesse. O desejo maior vem da criança ou dos pais? Essa questão não determina um “sim” ou “não” para iniciar uma aula de música, mas precisamos entender que a expectativa de uma criança é diferente de um adulto em relação a esse tipo de escolha. Precisamos estabelecer desde o início onde está essa expectativa e o quão saudável ela será para a criança.
Muitos pais procuram iniciar os filhos na aula de música para realizar na criança um desejo não alcançado por eles próprios. Para que isso não se torne um problema futuro, a recomendação é que esse desejo seja sempre alimentado pelo incentivo e não pela cobrança. Mostrar para a criança a importância dessa realização e dos benefícios idealizados por essa atividade, dará muito mais incentivo, permitindo que a criança se realize por si própria com essa nova experiência.
Esses pontos também devem ser analisados na escolha do curso. Iniciar uma aula de violão porquê existe um violão parado em casa ou porquê o avô gosta de tocar violão, também devem ser fatores de incentivo, não de obrigação. A criança pode estar cercada de cantores na família, com 3 gerações de violinistas e uma avó pianista apaixonada por Mozart. Mas se o interesse é na aula de bateria, incentive. Uma boa conversa com o professor ou o responsável pela escola de música nessas horas são essenciais.
Cabe aqui uma observação importante para a situação dos pais que sentem que não tiveram essa possibilidade na infância. A música é uma das atividades que não possuem restrição de idade para iniciar. Tanto na infância, quanto na vida adulta ou na terceira idade, ela é muito recomendada, existem várias metodologias de iniciação para qualquer idade. Vale pensar na possibilidade de realizar esse antigo sonho junto com seus filhos. Nem precisamos dizer o quanto isso será saudável para o desenvolvimento artístico e emocional da sua família.
Resultados esperados
Agora seu filho está matriculado e você não vê a hora de pedir pra ele tocar pra toda a família no natal. Vamos com calma! Existe um desenvolvimento diferente para cada criança e principalmente para cada idade. Isso não quer dizer que seu filho vai demorar 3 anos pra dar um belo show no almoço de domingo, mas que a exposição e a pressão devem ser acompanhadas sempre com cautela.
Para as crianças menores, existem processos de iniciação que focam em desenvolvimentos rítmicos, motores e sensitivos antes de aprofundar de vez em um repertório para apresentação. Se para um adulto não é simples formar um acorde no violão ou acertar de primeira aquela escala no teclado, imagine pra uma criança que nunca tocou um instrumento antes.
Todos sabemos que o principal objetivo de estudar música é tocar música, mas esses processos iniciais de aprendizagem são importantíssimos e pular etapas pode ser frustrante pra criança e causar um clima ruim com os profissionais que estão se dedicando ao desenvolvimento dela. É hora de segurarmos um pouquinho a ansiedade, acompanhar o passo a passo e incentivar com carinho. Quando menos esperarmos, a criança estará tocando corretamente, construindo de maneira muito prazerosa e artística o seu repertório musical.
E fica uma dica aqui, geralmente isso não leva mais que poucos meses, ou até mesmo, semanas.
Acompanhar o conteúdo é importante no início. A música é como uma nova linguagem, e assim como na alfabetização, são necessários processos. Primeiro aprendemos as letras, depois as sílabas, palavras, frases e textos, e em meio a tudo isso, aprendemos coordenar um lápis nas pontas dos dedos. Na música iniciamos pelas notas, formamos frases, aprendemos a ler as notas, estudamos melodias, aprendemos a postura correta e como tocar o instrumento, além de desenvolver uma noção rítmica precisa como um reloginho, ufa!
Curtir o processo junto com os filhos
A música não pode e nem deve ter pressa, não existe uma idade específica para terminar um conteúdo, não vamos repetir de ano e ficar pra trás no programa. Música se aprende pra vida e não para colocar no currículo (a não ser que você trabalhe com isso no futuro, claro). Além disso, a música é uma forma de arte, lidamos com emoções e com ela aprendemos a vivenciar nossos sentimentos cantando, tocando, ouvindo, interpretando, compondo e compartilhando experiências. Não existe formação para a expressão artística, cada indivíduo se descobre à sua maneira, ao longo do tempo. O importante é que essa descoberta seja saudável e nos traga felicidade.
O dia a dia em casa deve ser participativo, sem querer parecer repetitivo, mas a cobrança deve ser cautelosa. Evite cobrar seu filho com frases do tipo “não vejo você tocar nenhuma música”, ou então “acho bom você estudar pra não gastar meu dinheiro a toa”. Troque as cobranças pelo acompanhamento, que tal “e ai, o que estamos aprendendo na aula de música?” ou então, “vamos tocar ou cantar um pouco juntos?”. Incentive o seu filho a te ensinar vivencie isso com ele, essa dica é valiosa.
Dicas e sugestões fundamentais
Para encerrar, vamos dar uma dica de ouro. Com toda a nossa experiência na área e comprovado por várias pesquisas, podemos assegurar e garantir que as crianças que realizam uma atividade musical com o acompanhamento e envolvimento dos pais, seja no estudo em casa, no diálogo constante com a escola de música ou no acompanhamento das atividades, desenvolvem sua musicalidade com extremo sucesso. Esses alunos geralmente se destacam, sentem prazer em estudar música, constroem um repertório e uma independência musical muito grande. Sem contar os valores que aprendem e transmitem para a sociedade em que vivem ou até mesmo para as próximas gerações.
Por outro lado, infelizmente, ainda presenciamos muitos pais que matriculam os filhos na escola de música e mantém apenas uma relação de levar e buscar. Essas crianças frequentam a escola em média por até 3 meses. Entendemos que as atividades são muitas e os horários são escassos. Mas a criança necessita de acompanhamento e interesse dos pais nessas atividades. Quando trabalhamos com arte, trabalhamos com emoções. E quem melhor do que nossos próprios pais para nos incentivar e vivenciar essas experiências?
Professores e educadores oferecem todas as ferramentas, orientam pelos melhores caminhos, ensinam e compartilham seu conhecimento com todo amor do mundo. Mas ainda pedimos, com todo o carinho, que vocês, pais, façam parte dessa jornada. Garantimos que vocês só têm a ganhar com isso.
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